junho 16, 2003

BRASIL. Já agora, depois de falar de Machado de Assis, lembro que saiu no Brasil o novo livro de crónicas de Luis Fernando Verissimo. Não tem nada a ver. Mas eu sou dos que pensa que os portugueses deviam ler mais autores brasileiros, até para não ficarmos tão ignorantes, empertigados e ensimesmados. O Brasil fornece uma abundante lista de cronistas de imprensa que merece ser lida. De Nelson Rodrigues a Paulo Francis, de Fernando Sabino a Luis Fernando Verissimo, de Rubem Braga a Arnaldo Jabor, há motivos para concordar ou discordar – e para saborear alguns bons autores de língua portuguesa.

Em «Banquete com os Deuses. Cinema, Literatura, Música e Outras Artes», Luis Fernando Verissimo desanca aqueles que o quiseram reduzir às páginas de «O Analista de Bagê» como se o humor corrompesse a alma e o riso fosse pecado. Verissimo reúne aqui alguns dos seus melhores textos sobre cinema e literatura (e sobre jazz), cheias de deslumbramento quase adolescente pelos ídolos do seu coração. Trata-se, portanto, de revisitar os grandes mitos fundadores do cinema moderno e da literatura que o seduz pessoalmente – a escandalosa mágoa desse reencontro fica arredada destas páginas, porque Verissimo é cultíssimo e não precisa de enganar incautos. Talvez por isso ele escreva isto: «Sempre me pareceu enlouquecedor que os sonhos, justamente a oportunidade que nosso cérebro tem de falar connosco a sós, sejam em código, em linguagem simbólica, geralmente ininteligível.» Não é mesmo assim?

Comentários para Aviz