julho 07, 2003

O QUE FICA? O Oceanos pergunta-se, acerca da literatura actual e das comemorações dos cinquenta anos de vida literária de Urbano Tavares Rodrigues, sobre «o que fica»? Não sei. Mas decerto não há-de ficar o novo livro de Urbano, God Bless America/Deus Abençoe a América (Publicações Europa-América, com fotografias de Rui Ochoa). Trata-se de um «conto-reportagem» sobre o Iraque em que a mistura entre ficção e política chega a ser obscena; chama-se a isso enganar deliberadamente o leitor e, no caso, os outros livros de Urbano. Podemos ter sobre a guerra no Iraque todo o género de posições — mas pretender fazer passar isso à ficção-propaganda (da mesma forma que alguém poderia escrever um mau livro com «bom fundo ideológico» sobre a invasão russa da Checoslováquia, sobre os crimes de Estaline ou sobre a morte de José Robles na Guerra Civil espanhola — porque é que Urbano não o fez?) é um mau artifício que não torna simpático aquilo que, de Urbano, há de bom em alguns dos seus livros (sobre os quais já escrevi; e se escrevi «bem», não retiro uma linha). Portanto, retomando a pergunta de Oceanos, há coisas que ficam, sim; mas isto não fica, certamente. Ou seja, fica mal.