outubro 21, 2004

CABALA, 2. Gomes da Silva: «As cabalas existem independentemente da vontade subjectiva de as constituir.» A frase é genial. Eu agradecia que deixassem de falar do que não percebem, mas, já que se usa a palavra cabala, ao menos um pouco de pudor.
Seja como for, a frase é genial: os elementos, a poeira das partículas, as correntes de ar, tudo isso, podem ajudar a constituir uma cabala. Basta juntar uma declaração aqui, uma declaração ali -- e temos uma cabala. Há dois géneros de pessoas que andam à volta das teorias da conspiração: os que as produzem, e que, em certas circunstâncias, podem ser gente com um razoável sentido de humor e uma imaginação prodigiosa (ou ridícula); e os que temem toda e qualquer conspiração, toda e qualquer ameaça. Uma legenda da Caras pode ser o terrível sinal de que alguém brinca com a idoneidade da pulseirinha do senhor doutor; um advérbio contrapontístico numa crónica «de quotidiano» pode disparar um alarme na honorabilidade de um cavalheiro; um título mal lido (coisa que ocorre frequentemente) acaba por ser o sinal de uma conspiração contra a honorabilidade da administração pública. É quase um estalinismo na via pública: a suspeita permanente, a esquizofrenia da popularidade. Não interessa que o Expresso, o Público e o prof. Marcelo não tenham vontade de constituir ou de produzir um efeito; interessa que ele se constituiu, que ele aproveitou as oscilações dos elementos, a direcção das partículas. Veja-se como é perigoso existir no meio disso. Existir, sequer.

1 Comments:

At 3:20 da tarde, Anonymous Anónimo said...

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