julho 28, 2003

AMOR E ASSIM, 3.

Ela lê o que escreves, triste consolação, caindo a tarde
sobre as coisas. A vida perfeita vem do outro lado do mar,
como uma frase que nunca disseste, uma amável claridade
de que os seus olhos nunca se atormentam, não têm fundo.

A vida perfeita é breve. Ela lê cada palavra — e, em cada
palavra, quanto deixas de teu?, quanto se perde nas
florestas? O silêncio protege-te de ti mesmo, guarda os
dias para os grandes passeios entre as fronteiras da terra

distante, onde a luz te espera; guarda qualquer coisa
nesse espaço em branco no teu coração. Quantas noites
ela leu o que escreveste sem saber que para ela escrevias?
Tentação amena quando a tua natureza cede e ela regressa

para que tu fales, falando de amor. Que não esteja nos
teus braços, mas que se aproxime, que o calor console
a ventania, a aparência de Setembro, os passos na areia,
a sede de outra sede igual. Como saberias que o amor

não existe longe da sua pele? Quanto escreves para ela
escreves, e dizes o nome dos planetas, das feridas.
Esperas que reconheça esse sinal e te chame enquanto
a noite não sabe de que lado está, de que lado dorme.