setembro 07, 2003

CYMERMAN Caro João: nem de propósito. Nestas circunstâncias, quando se fala do Médio Oriente, há sempre a tendência para a piada final, a estocada final. No meu pequeno texto de ontem, sobre o Cymerman — que eu mantenho: é um repórter isento e é um homem justo e bom, além de corajoso —, corrigi a mão em relação a essa piada que poderia ter escrito; do género: «Nem todos podem ser como o José Goulão e fazer aquele tipo de comentários.» A razão tocou-me naquele momento: não, o João não acha isso. E não escrevi. Ainda bem, penso eu, depois de ter visto o teu texto de hoje. Mas a interrogação mantém-se, pelos vistos. Em relação a ela só tenho a dizer isto: o Cymerman vive em Israel e tem liberdade para visitar tudo o que quiser; e quando sentiu que não tinha, fez como toda a gente de bem que trabalha em jornais e na televisão: furou e continuou a ir onde quis. Isto faz dele um homem em quem se pode acreditar. E continuará (conheci-o de passagem, mas bastou) a fazê-lo. Fará reportagens em Ramallah ou em Be'er Sheva — não aterra no aeroporto e envia um «despacho» depois de ter lido a imprensa que leu no avião, comprada em Zurique ou Frankfurt. Quando o vi a entrevistar Yasser Arafat na SIC Notícias percebi muito mais do que isso — nas circunstâncias em que o fez, na altura em que o fez, ele sabia, eu sabia, tu sabias, que Arafat não dava entrevistas a qualquer um. Quando dá conta da devastação nos territórios ocupados, ele faz mais do que mandar um despacho, instalado no Hotel Tal (a dois passos do centro de imprensa), e rodeado dos jornais do dia: ele mostra, filma, entrevista. E isto é um elogio a Cymerman, à SIC Notícias e ao jornalismo que ainda sobrevive para contar.