junho 22, 2003

TOMAR PARTIDO. Ainda sobre o post anterior: Abrupto diz que «tomar partido» é uma coisa que se deve reservar: «É uma coisa muito séria, e só se justifica para coisas muito sérias.» Totalmente de acordo, porque «não se pode estar a viver sempre num estado de grande excitação moral». Mais uma vez, creio que estamos diante de uma questão geracional, o que não me assusta nada; tem a ver, também, com a capacidade de olhar as coisas com uma certa distância, e com o facto de já termos ouvido muita coisa ao longo da vida. Desvalorizamos certas irritações, certas paixões, algumas bandeirinhas — mas é importante mantermo-nos despertos para as palavras dos outros, para a linguagem dos outros, para frases que aparecem como uma ventania no meio do deserto. A metáfora justifica-se, porque nem sempre o «meio» (o blog, por exemplo) é o mais importante; às vezes, é no deserto que se rompem os maiores silêncios. Por isso, leio certos blogs com uma admiração crescente: no meio de irritações e de «umbiguismos» (concerteza que existe) há ideias que se retêm como uma explosão. Isso vem da capacidade de estarmos disponíveis, o que supõe tolerância. Eu também acho que a tolerância é a única palavra que nunca suportou ser metáfora — tolerância é tolerância; às vezes é aceitação, outras vezes é recusa.
A um certo nível, claro: há discussões em que não entro — sobre quântica (e como eu gostava!), sobre matemática, sobre teoria das ondas, sobre economia política, etc.; e há uma tolerância que entra na linha de risco, quando concede espaço à ignorância, que é o pior de todos os males, se lhe juntarmos a tentativa de nos enganar com leituras nunca feitas ou com aquela arrogância que se desmascara com facilidade — até dá pena. Mas a ignorância e a arrogância andam de mãos dadas (e rimam, sim): quem és tu para dares opinião?; quem és tu que não te conheço do meu filofax?; quem és tu que não apareces no Lux? São perguntas equivalentes. É por isso que devemos estar disponíveis; para ficar ou para passar adiante. A vida é muito rápida.