julho 13, 2003

CAMUS. IV R.T.D. escreve num mail que foi em A Morte Feliz, curiosamente, que «aprendeu» o significado do «sentimento religioso». É bem provável. A experiência religiosa é muitas vezes um impulso que vem de uma frase ou de um gesto fatal; nunca se sabe. Quase no final de A Morte Feliz, Mersault (portanto, o mesmo nome do personagem de O Estrangeiro) agoniza diante das encostas do Chenoua, depois de uma pleurisia (uma interrogação: seria tão doce a escrita de Camus caso não fosse tocada pela recordação do Mediterrâneo, do «mar imenso de gotas de prata»?). O fim da tarde estava cheio de nuvens vermelhas e ele diz, «mergulhado no travesseiro e de olhar posto no céu»: «Quando era pequeno, a minha mãe dizia-me que eram as almas dos mortos que subiam ao Paraíso. Era uma maravilha, ter uma alma vermelha. Agora sei que, normalmente, é só um presságio de vento. Mas continua a ser uma maravilha.» A diferença entre uma coisa e outra depende desse impulso que vem de uma frase.