julho 07, 2003

O SUL, SEJA LÁ O QUE ISSO FOR. O José Carlos Barros é um poeta magnífico que chegou ao mundo dos blogs com o Um Pouco Mais de Sul. Conheci-o em Évora, quando eu era professor de linguística e de teoria da linguagem, e ele era estudante de agronomia — estavam reunidas as condições para que o encontro fosse útil a ambos. Nessa altura ele era já um bom poeta. Mas ficou melhor, com o tempo, o fim do curso e a idade dos outros — estas coisas, às vezes, contam muito. Fazia versos de uma simplicidade brutal, e de um lirismo comovedor — o seu sonho, suponho eu, não era bem o de ser um engenheiro agrónomo, mas sim guarda florestal em Boticas. De lá vigiaria os pinhais de Carvalhelhos, das Pedras Salgadas, de Alturas, e as extensões de lameiros nos declives de Pitões e de Montalegre. Em querendo. Ele seria isso tudo, bastaria querer. Nessa altura publicou um pequeno livrinho, em que falava das sombras dessas florestas: a sua poesia coincidia com os muros das serras, com os dias de romaria, com o vento frio de Boticas, que era o de todo o Barroso. Amava as florestas, lia poesia, tratava da vida. Para além desse lirismo, é preciso dizer, a poesia de José Carlos Barros foi sempre atravessada por um romantismo brutal, que fugia da pieguice e das lágrimas — eram versos muito bons. Hoje, vive no Algarve, no Sul, seja lá o que isso for. Não sei se tem o «coração perdido nas terras altas», mas suponho que não esqueceu essas coisas. Mas a verdade é que há florestas em todo o lado. Se algum dia lerem os seus versos, hão-de ver que são muito bons. Entretanto, vão a Um Pouco Mais de Sul.