agosto 06, 2003

ABJECTO. Recebo alguns mails, de vez em quando — agradeço-os aqui. Dois deles, desta tarde, comentam o meu texto sobre o «acto de contrição» do Público. São mails anónimos, mal escritos, cheios de banalidades sobre os outros. Falam de reaccionarismo, de «justiça da história», não percebi porquê. «Isso não tira nada a os judeus serem fachos e merecerem a justiça da história» — leio num deles. «Por isso é que os judeus deviam ser corridos.» Andei toda a tarde com estes mails atrás de mim, sem perceber. De vez em quando interrogo-me sobre estas coisas: a ignorância, a maldade pura, brutal, aviltante. Há um deserto de coisas para atravessar. Um mundo de ruídos.
Um homem pára ao fim do dia, lê os seus livros, telefona, escreve, bebe cerveja, ouve música, olha para as neblinas de calor, desarruma a sala espalhando jornais e perdendo o telecomando da televisão. A meio da noite escreve porque sim. Fica com insónia ou adormece logo. Inventa maneiras de falar com esse silêncio ou com esse ruído. Há coisas assim. Sem ligação.