agosto 04, 2003

FOGO, 2. A floresta é um património sério e importante. Portugal é o país europeu com mais área consumida de floresta. Um dos índices de subdesenvolvimento cultural tem a ver com o grau de desprotecção da floresta — das nossas árvores, da nossa sombra, do nosso céu. Agostinho da Silva escreveu sobre o Brasil que o seu futuro se avaliaria a partir da forma como o país tratasse as suas árvores. Um país que não trata as suas árvores é um país negligente. Isto pode parecer coisa fácil, mas convinha que pensássemos na nossa indignação urbana quando arrancam árvores dos jardins das cidades (Porto e Lisboa, por exemplo) e de como as cidades ficam mais protegidas quando se rodeiam de árvores. Depois do ataque do betão e do asfalto (com a eliminação consequente da ferrovia, por exemplo), a vandalização do país passa por estes incêndios. A tendência natural será procurar culpados — mas é necessário, também, procurar acabar com esta negligência. O Palácio da Ajuda é património, tal como as dunas das praias, as florestas do Vidago (queimadas recentemente), as garças de São Jacinto ou as lagoas do Alentejo. Esta ideia de que o património cultural se esgota na sua «componente construída» é pobre e mesquinha. Dá pena. Nisso, até nisso, o Brasil dá-nos lições, por exemplo.