agosto 04, 2003

FOGO, 3. O Guerra e Pas escreveu três pequenos textos sobre os incêndios. E tem razão em todos eles. 1) o espanto que se gera diante dos incêndios é absolutamente anormal — tudo isto era de esperar. «O que espanta na fogueira em que a nação se transformou», escreve o P. «é, outra vez, o espanto que gera.» Mas há uma coisa que me assusta cada vez mais: em Portugal nada nos devia espantar; 2) A televisão fala de lugares espalhados por esse mapa da vergonha incendiária — mas raramente diz ou mostra onde realmente ficam; engana-se, até, na localização (confusão entre Santarém e Portalegre e entre Portalegre e Castelo Branco, por exemplo); 3) Importante, a reacção dos atingidos: «O que vai ser de mim?» O confronto das câmaras de televisão com «o país da tragédia» revela sempre o mesmo rosto — o país que espera ajuda, o país que andou a mendigar o «benefício» do Vinho do Porto, o país que — sorrateiro e manhoso — andou à caça de subsídios para o girassol, o país desgraçado que não sabe reagir diante do trágico e do crime. Mas há o outro lado — a manha das seguradoras, a sanha exploradora do Estado. Há uns anos, o Estado deu 56$50 por cada pinheiro ardido numa determinada aldeia; as seguradoras fazem maus seguros: como se admite que se façam seguros no valor de 20.000 euros para uma romaria cheia de foguetes — se os prejuízos resultantes do foguetório subiram a 200.000?
No caso dos incêndios, trágico e crime misturam-se, confundem-se, contagiam-se.