agosto 08, 2003

INCÊNDIOS, 2. Lucinda Duarte, também por mail, lembra alguns aspectos do «problema do futuro»: «Reproduzo do seu blog, uma parcela de texto […], sobre as nossas memórias de infância, que invariavelmente estão associadas, entre outras coisas, às árvores. “Quando passeio em Trás-os-Montes, com os meus filhos, gosto que eles aprendam os nomes das árvores. Eram as árvores da minha infância: os carvalhos, os castanheiros, os negrilhos, freixos, choupos espalhados ao longo dos rios. De vez em quando, percebo que houve um incêndio e que parte deles desapareceu. E percebo que uma parte do país desaparece, assim.” Pois acredite que esse sentimento de perda irreversível se manifesta nesta onda incendiária, que certamente suprimiu do mapa cognitivo das nossas memórias, muitas e belas árvores, únicas e distintas, pois também reflectiam um habitat e um ecosistema que, a partir de agora ficará irremediavelmente perdido. Até porque, não sei se sabe, o que vai acontecer a seguir será a chamada reflorestação feita só com eucaliptos (que é a árvore mais devastadora em termos de solos) mas que cresce mais depressa e é mais rentável para a pasta do papel (não sei se sabe que Portugal é, a nível da Europa, o principal produtor...) pelo que, o que provavelmente, e na melhor das hipóteses,o que nos espera, será o País inteiro de Norte a Sul, transformado num imenso eucaliptal. […] Os australianos de onde a árvore é originária, não o querem ver, nem de longe...).»