agosto 05, 2003

O PÚBLICO ERROU. O Público de hoje tem vários motivos de leitura — mas o mais interessante é a Nota da Direcção escrita a propósito dos artigos de Pedro Almeida sobre o Holocausto. Na altura escrevi vários textos sobre o assunto. A designação de «holocausto» em vez de Holocausto era apenas mais uma das «marcas distintivas» dos seus dois textos. Meses depois, o Público dá razão aos que achavam que esses textos não eram apenas anti-sionistas mas sim anti-semitas e abjectos. Discutir a Shoah do ponto de vista da qualidade do gás utilizado (o Zyklon-B), de saber se foram quatro ou seis milhões de judeus mortos nos campos de extermínio, se saber se os «chuveiros colectivos» podiam ter sido usados como câmaras de gás, se Hitler deu ou não a ordem para a «solução final» — e se deu, onde está ela escrita? —, é apenas um prolongamento do abjecto. Uma coisa é, de facto, discutir a indústria do Holocausto, a shoah business e as teses de Norman Finkelstein, o aproveitamento da vitimização, a invocação do horror nazi para justificar a agressividade dos fundamentalistas judeus — outra, bem diferente, é aceitar esse «meio caminho» para o negacionismo, o anti-semitismo e todos os argumentos do fascismo político e religioso (que vão das reacções do poder islâmico do pós-guerra — que exerceu todo o tipo de pressões sobre o Vaticano na véspera da encíclica de João XXIII sobre o deicídio, ou que pediu ajuda a Hitler para adoptar na Palestina «as medidas» que tinham sido tomadas na Polónia e na Alemanha — até à igreja da Cientologia de L. Ron Hubbard).
O Público deu guarida a estes textos em nome da liberdade de expressão. O Público errou.
Hoje, passados meses, o Público reconhece o erro em editorial. Só podemos estar orgulhosos do Público. Mas podemos estar orgulhosos, também, daqueles que na altura manifestaram a sua indignação, a sua tristeza e o seu desânimo — e enfrentaram a arrogância daqueles para quem a história é uma estatística, um pormenor e uma irrelevância. O Público fala também em desrespeito pelas regras do «bom gosto» ao ter publicado esses textos anti-semitas. Tem razão. Até nisso o Público tinha errado. Agora acertou.