agosto 03, 2003

O PÂNICO. Oiço o primeiro-ministro na televisão, ponderando: ainda é cedo para determinar se se trata, ou não, de uma catástrofe. Arraiolos, Pavia, Crato, Nisa, Tolosa, Chança, Aldeia Velha, Fundão, a serra de São Mamede, Vila de Rei, Vieira de Leiria — os nomes não terminam. As florestas e grande parte dos montados do Alto Alentejo (o distrito de Portalegre está em pânico) estão reduzidas a cinzas. Ao longe, vêem-se as chamas de Arraiolos e de Pavia. Mortos, casas destruídas, agricultura desfeita. Será isto uma catástrofe?

Há dois meses, a Grande Reportagem publicou uma peça sobre o assunto: os incêndios. Portugal é dos países com maior percentagem de floresta ardida de todos os países da Europa. Comparando com a área da Amazónia, os incêndios portugueses representam uma situação mais alarmante do que a que se vive no Brasil. Será isto uma catástrofe?

Finalmente, o ministro do Ambiente apareceu. O ministro Theias reuniu-se com Figueiredo Lopes em Castelo Branco — mas o assunto não é apenas da Administração Interna. O ministro Theias não apareceu durante «a crise do Lis», não apareceu quando começaram os incêndios, não apareceu quando as praias começaram a perder as bandeiras azuis (sim, isso é importante). Finalmente, apareceu. O país estava a arder. Será isto uma catástrofe?

Descoordenação dos comandos. Descontrole diante de situações de fogo. Desconhecimento do terreno quando os bombeiros chegam para atacar fogos que nunca mais terminam. Estradas florestais invadidas de pinheiros. Colinas de árvores resinosas que nunca tinham sido recenseadas. Falta de água. Falta de meios e de dinheiro para abastecimento de combustível, até. Milhares de hectares incendiados e reduzidos a cinzas. Fogo posto em vários pontos. Acusações a «aviões invisíveis» e «aparelhos telecomandados». Será isto uma catástrofe?