E, PORTANTO. E, portanto, eu devia isto ao Tiago O. C.. O seu blog, o Voz do Deserto é um daqueles que me aproxima dos outros, de todos os outros. Provavelmente porque os textos do Tiago são de uma clareza só disponível para quem se senta à beira do deserto, o lugar onde se pode recomeçar. Há em certos textos do Tiago — sobre Deus, sobre o silêncio — um radicalismo amável e muito sério. Ele não esconde o que o empurra, aquele vento de dúvidas que esbarra na necessidade da fé ou da cultura. Tem um conhecimento superlativo, excelente, do Novo Testamento — e mesmo quando cita São Paulo (o meu desgosto, mas o Tiago compreenderá) fá-lo com um grau de tolerância que o autor das epístolas nunca possuiria. O que prova que, quando escolhemos aqueles que nos acompanham na viagem, não temos necessariamente de designar os que nos são mais iguais, mas os que completam as nossas frases (para que não caiam no inferno da previsibilidade) e mais nos interrogam sem sair do seu lugar (para que tenhamos albergue em qualquer ponto do mapa). Não é essa a diferença entre «eleitos» e «escolhidos», certamente — mas aproxima-se. Eis porque o Voz do Deserto faz parte das minhas afinidades essenciais.
Aviz
«We have no more beginnings.» [ George Steiner ]
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