RELATIVISMO & ANTROPOLOGIA, 2 Como disse, a questão (a relação da antropologia com o colonialismo — onde se nota, como percebo do texto do Rui M. P., a chegada tardia do conceito de dominação para alterar a visão culturalista) ultrapassa-me largamente. Já não sou indiferente à pontinha do véu levantada por Bruno Sena no seu Avatares de um Desejo quando retoma o texto de Lévi-Strauss em 1971 (concordo com o sinal de desconfiança manifestado pelo Rui em relação ao «principal mentor de um relativismo dúbio») como uma provável antevisão do debate sobre a «condição racial» urbana na viragem do século — e a que os «estudos de género» emprestaram a sua face mais risível e, de facto, detestável. Nesse sentido, esse discurso de Lévi-Strauss soa-me bastante a mea culpa (pelo «relativismo dúbio» que ajudara a criar?), e imagino a horda de funcionários e antropólogos da Unesco a tentar calá-lo durante a conferência. Idênticas cenas ocorreram na conferência sobre a «condição feminina», promovida pela ONU, no México, em 1976, quando um delegado começou a falar da situação da mulher nos países árabes.
Nesta caso, há dois universos diferentes: o do racismo no sistema colonial moçambicano ou português (basta conhecer uma pequena amostra do material acumulado pelo Rui M. P. ao longo dos anos) e o do relativismo cultural, a que associei a expressão (dúbia, claro) «dormir com o inimigo». No essencial, a citação de Lévi-Strauss continua a parecer-me útil para a conversa (espero que o Bruno Sena Martins continue, como prometeu, o seu texto sobre — ah, curioso título — «o erro de Lévi-Strauss»).
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