setembro 09, 2003

RELIGIÃO E DIREITA. O Nuno P. do Janela para o Rio, envia-me um mail com questões sobre a relação entre religião & política:
«Há algumas verdades absolutas instituídas na nossa sociedade que eu tenho alguma dificuldade em compreender. Uma delas é a associação da dicotomia esquerda vs. direita (com a alternativa indecisos) com a dicotomia ateu vs. crente (com a alternativa agnóstico). É tida como verdade absoluta a ligação direita-crente, esquerda-ateu. Isto é assim, pelo menos no que toca à tradição cristã. Mas é aqui que me surgem várias questões, que gostava de ver debatidas aqui na blogoesfera:
a) Porque não pode um comunista ser católico praticante? A igualdade entre todos é incompatível com a fé em Deus?; b) Como é que as estatísticas demonstram que mais de 75% da população é católica, mas pelo menos metade da população vota à esquerda? Quer isto dizer que a abstenção é quase toda crente?; c) E as outras religiões, alguém que é budista, judeu, muçulmano, protestante ou outra religião qualquer, também é tendencialmente de direita?; d) Sendo assim, como enquadramos os terroristas de inspiração fundamentalista islâmica? Serão eles todos de direita?; e) E os grupos terroristas com base no separatismo (como a ETA ou o IRA)? Se querem a independência, são partidos nacionalistas, valores que são da direita, certo?
Sinceramente, eu acho que esta é uma das falácias da nossa sociedade, que a escolha religiosa, ao contrário da escolha política, pouco tem de consciente, é uma escolha mais imposta pela família e pela sociedade, do que imposta pela decisão racional de valores em que se acredita. Aliás, eu considero que a escolha religiosa é mais parecida com a escolha clubística (decisões do foro emocional/social) do que com a escolha política (decisão do foro racional). Além disto, basta olhar para a blogoesfera, acusada de ser maioritariamente de direita, para se perceber que a maioria dos bloggers não é crente (no sentido religioso da palavra).
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Já lá vamos.