outubro 10, 2003

ASSALTO A BANCOS. O assunto já é velho de dias, mas quando passo pela rua e vejo a rapaziada vestida de capa e batina, como se fossem beber cerveja no meio de uma tuna, agarrados a uma guitarra, pressinto que não se trata de estudantes. A imagem é vulgar, peço desculpa — mas não há como tirá-la da cabeça. Esse espectáculo das praxes, das bençãos das fitas e das respectivas fitinhas coloridas nunca me comoveu. Mas, agora, esta ligação na minha memória entre as bênçãos das fitinhas e a contestação estudantil, ultrapassa o que se possa pensar sobre surrealismo. Em Coimbra, o porta-voz da «academia» justifica a interrupção da reunião do Senado — trata-se de «desobediência civil», e dá mostras da sua alegria. Os repórteres rejubilam, a luta continua. No Porto, outro porta-voz da «academia» decreta uma «situação de crise» cujas consequências podem ir até à «desobediência civil». Os repórteres voltam a rejubilar, a luta continua. Eu compreendo a ideia de uma «luta contínua», «sem quartel», mas esta mistura de lugares-comuns com capas & batinas, de papel higiénico (a imagem do Abrupto é essencialmente correcta) com banalidades, é um folclore que às vezes parece imbecil. E vejo, ao fundo, os estudantes do Técnico (de Lisboa) que mandam os «caloiros» simular um assalto a um banco como «rito de passagem», mistura de criminalidade com mais imbecilidade. E tudo se mistura, como de costume.
P.S. - Através de uma carta inacreditável (publicada na Grande Reportagem), um responsável do Instituto Piaget de Macedo de Cavaleiros avisou-me há tempos que pretendia que eu esclarecesse «em sede própria» as minhas opiniões sobre as praxes e a vergonha que aconteceu naquela escola (o gabinete jurídico «accionaria as medidas tidas por convenientes», eu não perderia pela demora). Eu tinha defendido, com naturalidade, que o ministério da Ciência devia — caso se verificassem barbaridades semelhantes às que ocorreram no ano passado — fechar o Instituto. Hoje acho que se deveria fechar uma boa parte desse país.