outubro 02, 2003

EU NÃO QUERIA FALAR DE FUTEBOL, 3. Houve mails futebolísticos desde o intervalo do jogo. Nuno Morais, fora de fronteiras, comentou, e muito bem: «Escrevo-lhe porque gostaria de partilhar consigo, de um portista para outro, um certo alívio: ainda bem que foi o Futebol Clube do Porto a defrontar o Real de Madrid e não o Benfica ou o Sporting, porque, assim, a noite resume-se a uma derrota (pesada, é certo, mas uma derrota desportiva tão honrosa quanto o pode ser uma derrota), ao passo que, se o Real tivesse jogado com o Benfica ou o Sporting, os riscos seriam de humilhação histórica, talvez superior aos famosos "sete secos" infligidos pelo Celta de Vigo, uma noite que dura ainda. Não pude ver o jogo — continuo sem perceber a política de programação da RTPi; talvez a limitação seja minha —, mas ouvi alguma coisa do relato e li os comentários na imprensa de hoje. A impressão que o jogo de ontem me deixou foi de um embate entre o génio e o talento — Mozart e Salieri (este, aliás, injustamente ignorado). O Porto é uma equipa com talento, talentos, esforçada e abnegada. Tudo o que consegue é Ã custa de muito trabalho. Este não é um discurso de "violino", a exaltar e a desculpar "os coitadinhos". O Porto é uma grande equipa de pleno direito e por mérito próprio, bateu-se, mas há luxos que não pode pagar. E, por mais que eu me recuse a sobrestimar adversários, o facto é que o Real se pode permitir desleixos, porque basta o sopro de um jogador ou dois para inverter a situação. É evidente que nenhuma equipa entra em campo a pensar nisto, senão já parte derrotada, mas lá que é preciso coragem para enfrentar o génio, isso é. Se o génio leva sempre a melhor sobre o talento? Talvez não, mas ontem levou.»

Recebi também um mail do Ricardo Sousa: «Não se incomode com as bocas dos benfiquistas e sportinguistas. Amanhã [hoje] falaremos sem medo do resultado. A diferença entre "nós" e "eles" é que encaramos a derrota poucas vezes e quando acontece não nos incomoda falar dela. Até porque "nós" quando perdemos ou empatamos é contra o Real Madrid ou o Milão. "Eles" há muito tempo que não conseguem perder com esses clubes. Empatam com os La Louviere.»

João Silva excede-se em delicadeza, com boa ironia: «Aceite V. Exa os meus parabéns pelo resultado espectacular do seu querido Porto, esta noite com o Real Madrid. Para ficar ao meu gosto ainda faltaram dois golinhos!»

Isidoro de Machede, por seu lado, toma um ar sério e complacente: «Ó Viegas, convenhamos, a Margarida Rebelo Pinto [no "Livro Aberto"] e o FCP, numa só noite, é coisa para só entrar nos eixos com 3 caixas de Kompensan e mais 2 tubos de Guronsan, carago!»


Pedro L. Ferreira esgotou-se em simpatia, mas um tanto frouxo: «Foi pena não terem perdido por mais, porque aquele chapéu final do Raul devia ter entrado. Por mim só fico descansado quando vir o seu Porto eliminado e esmagado. O Porto e os portistas.» São estas coisas que nos dão alegria.

Luís Vitório andou bem: «Depois do jogo fiquei muito satisfeito. Escrevo-lhe só para dizer isso, nem sei porquê. Gosto de ler o que escreve, gosto do "Livro Aberto", gosto do Aviz, e gosto muito quando o Porto perde. Isto explica-se?»

Rui Leitão foi o mais brilhante: «Buenas noches.» Mais nada. Gostei. É assim mesmo — futebol é isso mesmo: «Vai buscar!... Toma.»