outubro 11, 2003

NOTAS SOBRE ULYSSES, 6. Imaginemo-nos na Sandycove Martello Tower, nome que agora ninguém reconhece, porque esta construção apontada à baía, mesmo defronte para Dun Laoghaire, leva a designação de Joyce Tower: ouvem-se ainda as palavras de Buck Mulligan, no início do livro: «Introibo ad altare Dei!», dizia ele para Stephen Dedalus, a quem tratava de «jesuíta cobarde». Às oito horas começava a grande peregrinação do Dedalus de Ulysses: às dez da manhã, o cenário é o da Dalkey Avenue e, depois, o de Sandymount Strand. Bloom começa em Eccles Street, número 7, às mesmíssimas oito da manhã. Terminarão os dois nessa mesma casa, às duas da madrugada. É impossível fazer o trajecto de seguida, passando por Leinster Street, por Prince’s Street (onde ficaria o Freeman’s Journal) e Middle Abbey Street (onde era o The Evening Telegraph), e, depois, por O’Connell, pela National Library, pela Strand, pela Grafton, diante do Trinity College mais tarde, Merchant’s Arch, Bachelor’s Walk, diante do Liffey (para os que gostam de Dublin, o cenário é o de certas canções dos Pogues), brilhando como pode brilhar a água do rio sob o céu cinzento de Dublin, James’s Street (para beber uma Guinness, claro), Fleet Street, Upper Ormond Quay, mais ao sul, Dublin Castle, Wicklow Street, Phoenix Park, Wellington Quay, Ballsbridge, Sandymount, até chegar a Holles Hospital Street, onde se dá o encontro mágico entre Dedalus e Bloom, e depois beber com ambos por volta de Beaver Street, sentar-me nos degraus da Custom House, caminhar, finalmente, entre Beresford Place e 7 Eccles Street, e ouvir a voz de Molly e julgar que ela é Nora, Nora Joyce, e não Molly, Molly Bloom. «[...]e Gibraltar como uma rapariga onde eu era uma Flor das montanhas sim quando pus a rosa nos meus cabelos como usavam as raparigas andalusas ou talvez eu devesse pôr uma vermelha sim e como ele me beijou debaixo da muralha mourisca e eu pensei tanto faz ele como outro e depois pedi-lhe com os olhos para pedir outra vez sim {and Gibraltar as a girl where I was a Flower of the mountain yes when I put the rose in my hair like the Andalusian girls used or shall I wear a red yes and how he kissed me under the Moorish wall and I tought well as well him as another and then I asked him with my eyes to ask again yes»} (uso a tradução de João Palma Ferreira, ligeiramente preferível à de Houaiss).