NOTAS SOBRE ULYSSES, 9. Joyce foi severo com Dublin: o seu envolvimento com a cidade, diz William Trevor, foi muito diferente daquele que Yeats teve com a sua Sligo, ou que Synge, o autor de The Playbouy of the Western World (estreado no Abbey Theatre, animado por Yeats) ou The Aran Islands, teve com Wicklow ou as ilhas. Não foi nunca uma paixão: tratou-se de uma aproximação «in a dry, cold, almost clinical way». Os seus roteiros de Dublin não são, como os de Sean O’Casey, Yeats, Russell, Shaw ou até Synge e Behan, caminhos comuns a uma geração, a um grupo de escritores — são viagens solitárias como as de Stephen Dedalus. Solidão no meio da pobreza, da miséria, das ruas cinzentas, sujas, frias e húmidas. Solidão no meio da própria solidão, de onde se escapa, furtiva e perversa, a imagem de Nora Barnacle, em Ringsend Park, no Verão de 1904. A imagem feliz de Dublin, em Joyce, é a que vem em certas páginas de Dubliners, cheia de recordações de infância, vozes do passado; Ulysses, escrevia William Trevor, é uma espécie de projecto arquitectónico — o mapa ideal de uma cidade pronta a reconstruir-se de acordo com as deambulações dos personagens, ou seja, uma imagem literária. Construída de acordo com um filtro de frieza e de isolamento.
Aviz
«We have no more beginnings.» [ George Steiner ]
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