outubro 02, 2003

O NOBEL. Raramente o Nobel nos enche de alegria. Quando chega, ao meio-dia, o nome do premiado, a primeira tentação é procurar — na lista da imprensa — o nosso favorito noutro lugar. A verdade é que a literatura, felizmente, vive fora do circuito de Estocolmo. Nas últimas duas décadas fiquei contente com o prémio para Seamus Heaney, ou Derek Walcott, por exemplo, ou para Brodsky, ou para V.S. Naipaul ou para Saramago, por várias razões. Houve prémios desoladores, como aquele que nunca se percebeu por que razão foi parar às mãos de Toni Morrison (a autora de Beloved), ou o atribuído a Dario Fo. E, pelo meio, houve outros assim-assim, como o de Nadine Gordimer. Kenzaburo Oe foi outra surpresa, como tinham sido Wiszlawa Sczymborska ou Claude Simon — desconhecidos, insuspeitos, limparam a fama da Academia, que gosta de, uma vez por outra, esquecer a literatura e favorecer as «razões políticas» (às vezes as coisas colidem, como no caso de Vicente Aleixandre — mas há absurdos monumentais, e o de Churchill também anda aí, infelizmente). Eu gosto de Coetzee. Bastante — Desgraça é muito bom, e À Espera dos Bárbaros (ambos publicados pela Dom Quixote) uma metáfora quase perfeita (o que é uma arte difícil).
E, portanto, este ano escolhi Philip Roth.