outubro 30, 2003

O PROBLEMA DA JUSTIÇA. Sobre o fenómeno da Casa Pia o único receio é o de que não se possa fazer justiça. Como não sou jurista, o emaranhado de leis decentes que permitem praticar injustiças é-me indiferente, mas compreendo-as. Compreendo os receios actuais sobre o segredo de justiça (que são sempre receios flutuantes, conforme a natureza e a inclinação ideológica dos arguidos), sobre a prisão preventiva (já os manifestei antes deste caso, na altura da aprovação da lei), sobre as fugas de informação, sobre os poderes dos juízes e do MP. Quando ouvi falar da «república dos juízes» também manifestei preocupação sobre a «república dos advogados» («ridículo», repreendeu-me um advogado num telejornal, citando o artigo — com aquele sorriso que faz de nós gente dispensável). E quando os sinais se começaram a avolumar, manifestei aqui outro receio: pela eventual preparação de um «acordo de bloco central» (esse «bloco central de interesses», sim) que se encarregaria de diluir o caso e de o desvalorizar, até não ser possível fazer nada com ele. Os últimos factos — em redor do julgamento de Bibi, por exemplo — contribuem para que esses receios sejam cada vez mais significativos. Oxalá nos enganemos, claro.