outubro 11, 2003

O QUE MATA. Esta discussão é risível e menor, eu sei. Fumar, não fumar. Tudo isso. O nosso bom doutor, ex-fumador, escreveu sobre o assunto, compreensivo, habituado a lidar com os vícios do género humano. O pormenor irritante é o pendor higienista que a campanha anti-tabaco tem desde o princípio: um mundo de leite magro, iogurte líquido, sumo light, «jovens que fazem surf mas não fumam», ovos sem colesterol. De vez em quando há uma antevisão desse mundo e não compreendo como os letreiros que hoje dizem «o tabaco mata» (com aquela agressividade boçal, palerma, primária e feia) não estão a tapar dois terços das garrafas de vinho («o álcool mata»), de whisky, de cerveja. Ou junto nas portas dos automóveis («morre-se nas estradas»), nas vitrines dos talhos («o consumo de carne vermelha é prejudicial à saúde»), nos livros de Paulo Coelho (não descobri a frase), tapando dois terços do «Jornal Nacional» da TVI, da fuselagem dos aviões, da frontaria do Ministério das Finanças, do nosso corpo todo. Não sei. Estamos tão sujeitos a tudo.