outubro 10, 2003

OS PORTUGUESES ACHAM QUE. [O PAPA] Este debate já vai longo, mas penso que toca em alguns aspectos que ultrapassam, de longe, o pormenor do «abdica» vs. «não abdica», como, por exemplo, a capacidade de enfrentar o sofrimento e a velhice, a legitimidade para não-católicos comentarem o assunto, etc. Neste caso, o Nuno P. do Janela para o Rio lembra-me, por mail, um texto publicado no seu blog sobre esta matéria.

«O que me aflige na discussão sobre a renúncia não é a discussão em si, é ver como as pessoas têm dificuldade em lidar com a velhice ou com a doença. João Paulo II tem mantido um discurso coerente com todo o seu percurso, a única coisa que mudou foi o seu aspecto, claramente afectado pela doença de que padece e pela idade que não perdoa.
O culto da juventude e o desprezo aos idosos é uma das grandes características das modernas sociedades de consumo […] ao mesmo tempo que os nossos avós e pais são colocados em lares ou pura e simplesmente esquecidos (veja-se a recente situação com os mortos de calor em França, em que muitos dos corpos de idosos não foram reclamados pelas famílias, provavelmente de férias numa qualquer estância balnear). Acho que existe um horror ao envelhecimento, pelo que acho que o facto de João Paulo II se manter no activo, provavelmente à custa da sua própria saúde, é uma enorme ajuda que presta ao combate a esse trauma, demonstrando que a doença e a idade não implicam que a pessoa deixe de ser útil, antes pelo contrário. É por isto que me apraz ver Karol Wojtyla envelhecer enquanto Papa e, quando assim tiver que ser, morrer enquanto Papa.»