outubro 30, 2003

PANTEÃO. Eu compreendo os receios do deputado José Lello sobre a cedência do Panteão Nacional para o lançamento do novo Harry Potter, e sou sensível à «elevação do lugar» (onde nunca fui, de resto, como qualquer português, aliás). De facto, o livro tem mais a ver com o Panteão do que o inverso: imagino Harry Potter percorrendo aquelas naves (terá naves?), escondendo-se atrás daquelas colunas (sim, parece que tem colunas), tremendo à lembrança daqueles nobres portugueses. Mas não consigo indignar-me nem recear a profanação. Acho que em relação aos portugueses que lá estão, a maior profanação é relegá-los para aquele silêncio todo. E oiço, então, as gargalhadas do miúdo, escondendo-se dos maus espíritos e da declaração de José Lello — e o esforço de Lello para não se rir de si próprio, ao perceber melhor o tom da sua indignação.