outubro 09, 2003

PORTUGUÊS SUAVE, 4. Sobre o texto acerca do Português Suave começam a chegar alguns textos mais serenos — e até alguns de fumadores, caramba. Além disso, há reacções ao assunto através do Luís Olival, do Maranhão (que prefere SG Filtro) ou do Apenas um Pouco Tarde, que vai fumando enquanto aprecia a chegada de mails cheios de saúde & moralidade à minha caixa de correio — e lê os livros do Paulinho Assunção. O BlogameMucho, que é médico, também gosta mais de SG Filtro.

Cláudia Cateano escreve, para abrir a lista:
«Realmente nunca sei bem o que me move, agora dou por mim a juntar-me à "chuva de mails" que diz ter recebido nos últimos dias à conta disto, valha-me ao menos não me estar aqui para me juntar ao coro (espero). De resto, logo que li o post sobre o Português Suave, no blog, imaginei que a coisa não se ficaria por ali. Tento ser breve: subscrevo inteiramente que «tirar o “Suave” da designação “Português Suave” é uma palermice que só cabe no cérebro de uns merdas de Bruxelas». Uma coisa, no entanto, me deixou confusa. Não me espanta que não reclame contra a proibição de fumar nos aviões, transportes e em alguns lugares públicos (não o tenho por terceiro mundista ;) ), mas aqui começa a dar de si esta convicção de pró-tabagista não praticante (é uma causa nova que arranjei recentemente, à custa dos disparates dos merdas de Bruxelas e dos que pertencem à mesma escola). Se sim, em alguns lugares públicos, por que não noutros? Que critérios? Lia há dias (talvez no “Público”, talvez há semanas, já não sei) que em alguns bares nova iorquinos (talvez Nova Iorque, meu deus, a memória... com certeza nos EUA) a proibição do fumo já vingava de há algum tempo a esta parte. Lembro-me que se tratava de uma espécie de roteiro sugerindo sítios onde se poderia ouvir jazz e dei por mim neste exercício meio atrapalhado de imaginar um bar limpinho, iluminado e arejado com uma boa banda de jazz. Foi difícil, há clichés que não consigo largar, o jazz com fumo (nem que seja o fumo dos outros) é um deles. Mas de volta, se para algumas pessoas um cigarrinho é indispensável com o café depois do almoço, para outras é coisa para anular todo o prazer da melhor refeição... E então? Quem pode mais? Quem tem mais direito ao prazer, e quem deve abdicar? E por que há-de o não-fumador passar por "tipo chato e picuinhas" se reclama com o fumo de um cigarro? Curioso é isto ter muito pouco, mas muito pouco mesmo, que ver com o Português com ou sem “Suave”, digo eu.»

Também Paulo Caldeira, que é médico (e com quem tenho um problema a resolver, a propósito de um golo de Costinha), tem opinião sobre o assunto:
«Sou também fumador e, por um acaso, também sou médico. Não me orgulho de fumar, claro, mas também não o sinto como um crime. Sei bem quais os malefícios de fumar, para o fumador. No entanto os eventuais problemas do fumador passivo ainda não são uma evidência científica indiscutível. É muito difícil caracterizar essa entidade (fumador passivo), e mais difícil arranjar grupos homogéneos e comparáveis, quer no respeitante à quantidade a que estão expostos quer em relação a outras exposições. Por outro lado existe um importante componente genético no cancro do pulmão que torna só algumas pessoas muito susceptíveis de o adquirir.
Seria também engraçado que se formaça a "liga" dos peões. E que estes exercessem um pressão considerável na mole imensa de condutores que, por mero vício e comodismo, poluem o ar que respiramos. E que houvesse campanhas impiedosas para que deixassemos de conduzir. E que os carros tivessem alterar os seus nomes atrativos e tivessem estampados no volante "conduzir mata".
Lembrei-me de uma campanha que houve há anos, em que aparecia uma planta de Lisboa com uma pequena área que era o gueto dos fumadores. Quem sabe se um dia não nos encontraremos lá!»


Outro fumador, Rui Silva, escreve:
«Sou fumador (por enquanto) e padeço dum vício nocivo mas que me dá algum prazer. O que parece interessante é o facto de se estar a assistir a uma “campanha” de índole fanática contra nós, talvez importada, com a validade de fora de prazo, dos “States”. É fanatismo puro e duro, uma campanha tolerada e incentivada, o que é grave, pelas autoridades que nos governam. As “deliciosas” mensagens escritas a negro de luto antecipado, nos maços do nosso “tabaquito”, têm, certamente, cobertura oficial e, espero, suporte científico. O fanatismo é intolerável, venha ele donde vier e sob que pretexto exiba e, contra isso me bato. Penso, contudo, que se é assim tão mau, quem nos governa deveria ter a coragem, para salvaguarda da saúde pública, de mandar retirar do mercado um elemento que, como dizem, é altamente prejudicial à saúde. Tenham a coragem de o proibir como proíbem e retiram do mercado determinados fármacos, alimentos e, como o fazem ou fizeram a livros “inconvenientes”. Assumam-se. Lutem contra as tabaqueiras, prescindam da receita fiscal que a venda proporciona e talvez a economia paralela dos contrabandistas floresça. Retirem as compensações financeiras às plantações de tabaco e, haverá mais pessoas a protestar, agora para que se fume.»

Também recebi um mail do Mário Filipe Pires, do Retorta, em jeito de solidariedade:
«Não fumo, mas não me passa pela cabeça obrigar os fumadores a não fumarem. Há situações onde penso que é possível conciliar ambos, infelizmente a falta de bom senso é comum a algumas pessoas de ambas as "convicções", pelo que debates destes se saldam por um espectáculo deprimente. Apenas em alguns restaurantes me incomoda o fumo de cigarro quando estou a desfrutar de uma refeição; no entanto, aqui é mais a falha do restaurante em não proporcionar condições para que não haja transferência de fumos entre as áreas.»