TELEVISÃO E PARVOÍCE, 2. Evidentemente que há o risco do apelo à censura, quando falamos desta maneira. Sim, temos medo da censura. Prezamos a liberdade, é o valor mais alto. Somos tolerantes. Prezamos a liberdade que permite termos programas de merda em horário nobre. Somos tolerantes com os pândegos e alarves que poluem a vida. Somos tolerantes com o erro. Somos demasiado tolerantes com a mediocridade. Tratamos como génios uns fedelhos intoleráveis incapazes de soletrar. Não damos valor à idade. Não damos valor ao trabalho, ao esforço, à imaginação, à cultura. Esse país razoavelmente interessante acabou. Provavelmente acabou há muito, no meio da gritaria da televisão, do ruído dessa canalha que se apoderou dos centros de decisão, do jet set e dos comissariados do gosto. O país está entregue a eles. Que o devorem e lhes faça bom proveito. Podemos começar a emigrar.
Aviz
«We have no more beginnings.» [ George Steiner ]
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