outubro 12, 2003

UM ESPECTÁCULO PORTUGUÊS, 3. Na sequência deste texto, Cecília Costa envia um mail em que deixa três perguntas:

«a) Acha mesmo que houve um espectáculo, no sentido de ter sido montado, na saída de Paulo Pedroso da prisão?; b) qual foi o verdadeiro papel dos media neste espectáculo?; c) na actual conjuntura, o que se esperaria dos ditos meios de comunicação social?
Gosto de o ler e não gostei da maneira como alinhou na cantilena de uns quantos recatados e "sóbrios" da nossa praça.»


Respostas concisas: a) sim; b) o de fazerem o que lhes estava destinado que fizessem; uns fizeram-no com mais sobriedade, outros com mais «sentido do espectáculo», outro com mais «sentido das conveniências», outros com uma certa falta de «sentido do ridículo», sobretudo nos comentários mais imediatos dos seus «repórteres no local» — preferia que houvesse mais sintaxe e menos adjectivos; c) a pergunta está armadilhada pela inclusão desse pormenor, «na actual conjuntura»; na verdade, esperava-se que os media fizessem o que fizeram — que dessem a informação e a explorassem (acompanhei o momento pela rádio, fazendo zapping); era dispensável o festim. A partir deste momento, o «caso Paulo Pedroso» está definitivamente encerrado na «esfera política» (mesmo que o dr. Sampaio reafirme que o seu discurso de Braga era «geral» e feito de «generalidades» e não dirigido ao juiz Rui Teixeira) — mas não acho ridículo que o deputado tivesse ido ao Parlamento; foi lá que deu a sua conferência de imprensa antes de ser interrogado e, depois, detido. O que se passou no espectáculo (misturando a «celebração política» em redor de Paulo Pedroso com os comentários sobre o Estado de Direito» e a natureza desta investigação) é outra coisa, como se verá nos próximos anos — se ainda tivermos memória para as coisas que se disseram nas últimas semanas e que vão ser ditas nas que se aproximam.

De resto, o «espectáculo» era inevitável. Compreendo perfeitamente o discurso próximo do País Relativo, por exemplo, que foi contido — e não vejo como poderia ser de outra maneira. Um resto de humanidade (e de amizade) marca as pessoas em momentos destes.

Cito, aliás, o que se escreveu com idêntico bom-senso na blogosfera, pelo Picuínhas: «Daí até sugerir que os dirigentes do PS se deveriam abster de receber com alegria e emoção um amigo libertado da prisão, vai um longo passo. É da natureza humana que se criem amigos junto daqueles com quem trabalhamos todos os dias. E um amigo não se abandona.»