outubro 15, 2003

UMA ONDA DE PARVOÍCE, 10. Escreve o Mário Filipe Pires (do Retorta), por mail: «A questão da educação tem sido demasiadas vezes deixada a cargo de técnicos de gabinete, que planeiam sem se preocuparem com a adequação das matérias. Na formação profissional digna desse nome, as questões pedagógicas e de conteúdo são pensadas em função das competências que se quer que os formandos adquiram e da duração das acções de formação. A educação formal não perdia nada se olhasse com olhos de ver para os métodos e formas de actuar da formação profissional. A questão dos manuais até a posso considerar secundária, muito mais fulcral é a questão da preparação dos professores e das condições de trabalho que lhes são dadas. Professores excepcionais haverá poucos, infelizmente, mas a maioria deles terão competência e empenho para conseguirem desempenhar a sua função com brio. Gostava também de um modelo de educação, onde a prioridade não fosse a memorização de dados, mas a capacidade de relacionar factos e resolver problemas utilizando o conhecimento actual como base para o pensamento. Não sei se algum grau de ensino em Portugal nos educa na verdadeira acepção do termo.»

Há um problema, caro Mário Filipe: a questão dos manuais não é secundária. Não o digo por causa da obsessão com o livro, mas porque tem de existir uma lei na escola, e essa lei, aparentemente frágil, é também a do livro. O que se passará na cabeça de miúdos que têm de corrigir — este é um exemplo de entre os muitos que têm chegado ao Aviz — a tabuada no livrinho de fichas, porque aí vem errada? E daqueles que aprendem, num outro livro de fichas/exercícios, que o plural de «qualquer» é «quaisqueres»? E o que devia acontecer com aquele professor que escreve «plo» em vez de «pelo» no livro de sumários — e, tendo alguém tentado corrigi-lo, diz que «tanto lhe faz»? Esse é um problema. Não escreverei sobre pedagogia e sobre a «transmissão de valores» — acho que a pedagogia é para os professores e que a «transmissão de valores» é assunto familiar. Mas estas coisas são simples: deve, ou não, o Ministério da Educação penalizar os editores e autores de manuais escolares onde se detectem erros desta natureza e de semelhante ou superior gravidade? Ora, eu penso que o Ministério deve garantir aos cidadãos, através de um grupo de trabalho permanente, que estas coisas não passem em branco.