UMA ONDA DE PARVOÍCE, 11.Para Jorge Camões, que entra na discussão sobre o assunto, a situação é natural, posição que eu defendo há muito, sobretudo quando aparecem almas torturadas, chocadas — e, geralmente, esganiçadas —, protestando contra as várias «ondas de parvoíce». Diz isto, o mail de Jorge Camões (que mantém o blog Ser Português (Ter Que):
«Há um aspecto que me parece interessante, mas que não tem sido abordado na questão dos manuais escolares: é a inevitabilidade de aparecerem coisas como estão a aparecer. Nos Estados Unidos, os grupos de pressão estão a levar os manuais a níveis absurdos do politicamente correcto, de acordo com o The Language Police. Em Portugal, onde não há grupos de pressão instituídos como tal, há um poder evidente, o da televisão.
A televisão molda comportamentos, e coisas como o Big Brother espalham-se como virus, em especial em organismos frágeis, como a escola, ainda mais fragilizados com programas de disciplinas que objectivamente convidam os monstros a entrar. Portugal trata mal os velhos, educa mal os novos e está-se nas tintas para os restantes. O nível de analfabetismo funcional tende para infinito e o poder de compra tende para zero. As opções pedagógicas têm sido catastróficas.
Neste cenário, em que as televisões são, para muitos, a única fonte de informação e entertenimento, a ausência de limites aos conteúdos parece-me um crime ao nível do comércio de droga. Os limites deveriam ser auto-impostos e pelos vistos não são, e o Estado não tem coragem para os impor (começando por não fazer cumprir os limites de publicidade). Neste sentido, o aparecimento do Big Brother nos manuais escolares parece-me uma consequência natural. Se não secamos a fonte nem construimos barragens decentes, o resultado é este, e será sempre.»
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