outubro 14, 2003

UMA ONDA DE PARVOÍCE, 8. É importante que os professores falem abertamente sobre a questão levantada por este tema, como já disse. Acredito que, em determinadas circunstâncias (nada negligenciáveis, aliás), eles são um elo fraco nesta teia de irresponsabilidade, mediocridade e parvoíce. Muitas vezes submetidos à burocracia e às linguagens dos «técnicos» e «pedagogos» oficiais, acredito que o seu mundo ou fique irrespirável ou lhes dê uma grande, enorme vontade de rir. A questão dos manuais escolares, no entanto, é muito séria, prolongando erros e desvarios junto de crianças e professores. Veja-se o mail de M. Gaspar, que dá exemplos e levanta dois problemas interessantes:

«Sou professora de Língua Portuguesa do 10º ano.  […] De facto, é cada vez mais impossível, no que diz respeito a manuais, escolher o manual certo.  Só para dar um exemplo, recebi há dois dias um conjunto de fichas de trabalho, de Vera Saraiva Batista e  Verónica Baptista, Jogos Gramaticais, 3.º Ciclo Ensino Básico, publicado pela Lisboa Editora.  Quando me preparava para fotocopiar uma das actividades para os meus alunos, que tinha por objectivo sistematizar os pronomes, vejo o seguinte: “qualquer - quaisquere(s)”!  (página 16, exerc. nível 1).  É apenas um, entre milhares de exemplos. Pergunto eu:  qual o motivo que leva o Ministério a deixar proliferar tanta estupidez, tanta ignorância?  Por que motivo se culpam apenas os professores?  Por acaso já pensaram que os professores recebem, habitualmente em Junho, dezenas de manuais novos para escolherem um, no máximo até dia 15 de Julho?  Já pensaram que essa escolha coincide com a avaliação, com o serviço de exames, matrículas, etc?  Não é desculpa, mas dá que pensar.  Então, se no Ministério há tanta gente sem componente lectiva, se é nos seus gabinetes que se fazem os programas, porque não  fazem a análise pormenorizada dos manuais?  Assim, corriam-se menos riscos, em princípio. Depois, as escolas, no pouco tempo que lhes é dado, limitavam-se a escolher, de entre os manuais aprovados, aquele que tivesse mais a ver com os seus alunos. E, se tivesse de ser um manual único, como foi durante anos, não vejo qual o problema. O mesmo manual torna-se logo diferente consoante o seu utilizador e as estratégias de abordagem.»

Nesta matéria dos manuais escolares, bem como em outras áreas do ensino básico e secundário, não seria bom existir uma «entidade reguladora» que vigiasse erros como os que são apontados por M. Gaspar? Será aceitável que os autores e os editores de manuais escolares com erros grosseiros possam continuar a produzir disparates, como inimputáveis?