A LUTA DOS ESTUDANTES. Eu, que não tenho má relação com Coimbra, acho — ao contrário do Nuno, no Klepsydra — que fechar a cadeado os portões da universidade não é assunto interno da escola, por muito que se queira falar da «autonomia» da universidade. Não vejo, nesta soma de acontecimentos, apitos, invasões das salas do senado, frases deslocadas dos telejornais, declarações & marchas, a «bondade natural de uma luta estudantil» — mas apenas a repetição de lugares-comuns sobre «o sistema», a «lógica do sistema» e a profissionalização do «protesto estudantil», com o seu aparelho e a sua gramática. Palavras como «academia», por exemplo, são inteiramente deslocadas no tempo e na questão das propinas. Fazem parte de uma concepção dos «estudantes» como «classe» à parte — nem sequer uma «classe» no sentido puramente «profissional», mas apenas no sentido «ideológico» ou «geracional».
A benevolência com que as marchas e as encenações são noticiadas pela imprensa (com ironias às «propinas do Sr. Reitor» — ah, oiçam os noticiários da madrugada, na rádio, são uma revelação...) fazem passar a ideia da «naturalidade com que o protesto deve ser visto», acentuando esse lado geracional: o tempo da indignação, uma espécie de direito revolucionário rotineiro e tão previsível como desculpável, sejam quais forem os excessos, dislates e erros do discurso. Fechar a cadeado os portões de uma escola é «uma forma de protesto» tão banalizada como criticável: o direito revolucionário não pode, em democracia, impedir os estudantes de entrar no edifício da universidade. E o poder da encenação não pode servir nem para travar o debate (sobre as propinas, por exemplo) nem para legitimar o poder dos encenadores, tratados nas palminhas pelos média.
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