novembro 02, 2003

NOITE, O QUE É?, 21. Muitas vezes não durmo para poder continuar a ver isto: tudo o que amei, o que vem de longe, do outro lado do mar. Tudo interrompe estas imagens; tudo desperta palavras de outra gramática, de outra língua, secretas, jardins onde as duas árvores maiores nunca estão abandonadas, tudo o que vai acontecendo à sua sombra. Estranhas coisas acontecem desde que me levanto, nos dias seguintes — a beleza é uma memória que não sai do meio dos olhos, que não se cansa, não se esgota. É por isso que muitas vezes não durmo, para continuar a ver, a não ser que nos encontremos mais tarde, ou apenas nos nossos sonhos.