novembro 08, 2003

A NOITE, O QUE É?, 22. Mesmo sem olhar à volta, vejo quase sempre as mesmas coisas: as sombras, a relva, a varanda, as árvores que amo, o sabor da cerveja, do café, os aromas, os primeiros sons, a luz que entrava pela janela, um livro, a cozinha. Os olhos. A primeira voz. A recordação é sempre em ponto mais pequeno, como um esconderijo, uma revelação a salvo, como um segredo, um eclipse, a floresta de pinheiros, os pés nus no chão. E então conto os dias, conto as noites, o que inventamos, o que nos espera. A casa da minha vida fica aí, nesse retrato. A voz da minha vida. Tudo se escreve numa língua desconhecida, sem gramática, sem frio.