novembro 23, 2003

PATRULHA IDEOLÓGICA. O pior da patrulha ideológica não é discordar, detestar, estar contra, ter outros argumentos, ter aliados, cumprimentar os amigos (com «o excelente», «o imprescindível», etc.) antes de dizer uma frase, criar famílias de adjectivos em vez de geografias de afectos, ser facilmente visível, irritar ou ser irritante; não. O pior é estar sempre vigilante — sobre cada vírgula, cada frase, cada ideia. Não discute, não argumenta; não. Tem apenas a obsessão de impor a sua linguagem, a sua conversa, de limitar o espaço que não controla. E um prazer absoluto quando distorce, cita incorrectamente, descobre um fragmento maldito. A patrulha ideológica afirma a superioridade moral do debate — desde que seja com o seu dicionário. O que lhe escapa, morde, sobretudo para se distinguir. Esse sentido policial da discussão acaba por transpor-se para vida propriamente dita, chata, antipática, desgraçada.