TELEJORNAIS E ROMANCES. O Nelson de Matos sonha com umdia em que os telejornais abram com a notícia da publicação de um romance de autor português. Eu acho que há coisas mais importantes, mas compreendo o desejo do Nelson. O problema é que os telejornais são muitas vezes «alinhados» (estou a falar do alinhamento editorial) por gente com sensibilidade de um elefante e convenhamos que os romances portugueses não são lá muito apelativos. Um dia destes, no entanto, fiquei espantado com o rodapé de um telejornal, onde se anunciavam os prémios Fémina e Medicis — para língua francesa. O texto do rodapé indicava títulos, autores, etc. Uma boa notícia? Não. Uma péssima notícia; esses textos são geralmente de uma indigência ideológica devastadora e de uma gramática a rondar o absurdo. Mas um telejornal (já não sei em que canal era) que anuncia os quatro livros franceses premiados e ignora edições de livros ao pé da porta, dá que pensar. Nada de «nacionalismos» — um «bom romance» seja em que língua for (inclusive a nossa) é sempre superior a um «romance português», evidentemente. Simplesmente, ao dar a informação pormenorizada sobre os Fémina e Médicis, a televisão dizia: «Estão a ver como nos interessamos pela informação "literária"?, estão a ver?» A gente já os conhece.
Aviz
«We have no more beginnings.» [ George Steiner ]
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