dezembro 06, 2003

TENTAÇÃO. Nas últimas semanas o país manifestou uma das suas tendências mais soturnas: decidir sobre quem tem direito a falar. Durante meses, o juiz Rui Teixeira foi acusado de quase tudo — quando falou, finalmente (sobre outros assuntos), quase todos os colunistas acharam que ele não devia falar, fosse em que circunstância fosse. O dr. Sampaio falou sobre as revisões constitucionais (nem foi especialmente mau, o seu discurso, batido de longe pelo do Alentejo quando decidiu propor a “despenalização” dos touros de Barrancos, pelo de Angra sobre o “respeitinho aos políticos” e pelo de Braga — mais recente — sobre a Justiça). Santana Lopes, que tinha proposto uma revisão absurda (o Senado das corporações era só o princípio), achou que o dr. Sampaio devia estar calado e que não tinha nada que falar. Ferro Rodrigues achou que era absurdo mandar calar o presidente e que, pelo contrário, se havia alguém que podia falar, era precisamente Sampaio — em contrapartida, disse que aos membros do governo estava vedado manifestarem-se sobre a Constituição. Esta tendência para mandar calar é, no mínimo, interessante.
É verdade que vai por aí uma gritaria insuportável, mas candidatos a mandarins não faltam.