FUSO HORÁRIO, 1. Por isso, há matéria na imprensa recente que merece atenção. Três assuntos: 1) o artigo de Pedro Magalhães no Público, em resposta ao texto de João Cutileiro sobre a «depressão portuguesa»; 2) os dados sobre «violência sexual» entre universitários, por exemplo; 3) a legislação sobre emigrantes. O resto, o discurso do presidente sobre a justiça, a discussão sobre o aborto, e até mesmo as «novidades» das presidenciais, não trouxeram novidades.
Por isso, ainda, chamo a atenção para a nota de Jorge Marmelo acerca de Planalto em Chamas, de Juan Rulfo (publicado pela Cavalo de Ferro) – infelizmente não é possível manter a musicalidade do título original, El Llano en Llamas. Rulfo é um dos grandes poetas da literatura latino-americana e o criador (no singular) do que viria a ser o «fantástico» latino-americano. Pedro Páramo é um livro desses, fundador e inimitável – quando alguém tenta imitá-lo, nota-se logo: é a história de um homem que atravessa as montanhas para conhecer o seu pai, que já morreu há muito. Todos os seus personagens são fantasmas cujo corpo desapareceu. Todas as suas evocações são tocantes e violentas. Nada ali existe, tudo é fantasma (Pedro Páramo foi publicado numa boa colecção, a Ficções, das Edições 70, dirigida por Eduardo Prado Coelho; começou com Rubem Fonseca e A Grande Arte, e incluiu, por exemplo, Catherine Texier e Hermann Broch).
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