LIVROS DO ANO, 11. {Ensaio} Fernando Gil, Paulo Tunhas (& Danièle Cohn), Impasses (Europa-América).
A «ciência jornalística» chama-lhe «estimulante» e isso é o menos que se pode fazer para o desvalorizar por parte de quem tem todas as certezas absolutas (sobre o Iraque, sobre Israel, sobre a América, sobre a Europa, sobre a degradação da filosofia) e usa todos os adjectivos do dicionário. Trata-se, também, de um livro contra a má-fé, que é cada vez mais um instrumento acessível e popular. No caso de Fernando Gil, corre um risco surpreendente e considerável, ao passar dos fundamentos da sua teoria e epistemologia da prova para o universo da política quando os assuntos ainda estão a provocar fracturas tão decisivas e definitivas. É um dos livros mais corajosos do ano, que, como de costume, provoca esgares de cinismo naqueles que são proprietários da verdade aconteça o que acontecer.
[Um dos temas centrais do livro tem a ver com a questão iraquiana, claro; seria bom dizer o seguinte em relação ao assunto: é cada vez mais evidente que não existem essas armas de destruição em massa que povoaram todas as ameaças pré-invasão; os EUA vão pagar muito caro essa mistificação, e durante muito tempo; no terreno, a inépcia e a infantilidade quase totais dos americanos, são outro erro que descredibilizou bastante a luta contra o terrorismo e a possibilidade séria de, num curto prazo, democratizar os regimes ditatoriais e fora-da-lei do Médio Oriente, como a Síria, o Irão ou a Arábia Saudita; essa democratização acarretará, agora, custos mais elevados; uma das consequências mais graves dessa inabilidade da administração Bush é a radicalização a esquerda europeia, o aumento da sua desconfiança em relação à democracia (para retomar o que Gil diz) e a ilusão de uma vitória, provavelmente breve, do eixo Paris-Berlim.]
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