janeiro 22, 2004

O CÉU DOS TRÓPICOS. [para o Abrupto] Depois de cinco dias de chuva ininterrupta, o céu nocturno dos trópicos (finalmente quente, húmido, devorador) anda cheio de ruídos, mais do que de estrelas: sapos na beira das lagoas, grilos, guayamus, cães ao longe, folhagem das árvores, motores de barcos que entram no rio vindos do mar a esta hora. Distinguem-se manchas de luz no céu azulado, sim, riscos de objectos invisíveis que deixam apenas um rasto branco, prateado, antes de desaparecer. Polux. Gémeos. Sirius. Centauro e, claro, o Cruzeiro do Sul. Mas a maior constelação é a que se avista da orla, quando a linha do mar se consegue distinguir da linha do céu a esta hora nocturna: fios de casas, arvoredo, carros parados, tudo longe da Europa.