janeiro 29, 2004

OS TELHADOS DO VATICANO, 2. O Carlos C. do A Quinta Coluna não apreciou as três linhas que escrevi sobre «os telhados do Vaticano» a propósito da acusação à indústria farmacêutica (insisto, ó almas!, que não me parece tratar-se de opinião do Vaticano mas sim de um padre jesuíta americano, o que é bem diferente). O Carlos acha que, a mim, «não importa saber (mesmo se para refutar) as razões da Igreja contra o preservativo como meio de combate à propagação da sida». E tem toda a razão; as razões morais elevadas acerca do uso do preservativo, para quem conhece África, desaparecem rapidamente. Depois de passar pelo Zaire, pela Costa do Marfim, pela Guiné, pelo Ruanda, por Moçambique ou por Angola, confesso que desaparecem — para ser claro, explicar o que é a monogamia, a abstinência sexual e outros valores essenciais, a uma população que vive noutra cultura, não resulta. Mesmo concordando (como escrevi) que os países mais atingidos têm o direito de desrespeitar as patentes dos medicamentos usados no combate à doença (trata-se essencialmente de retrovirais), também me parece que estamos diante de um caso de «desgovernança» (que termo…) na maior parte desses países: seria bom que o Vaticano, por exemplo, declarasse como participantes no genocídio de África os governos que desviam fundos entregues por outros países ou instituições internacionais e que mantêm as suas populações abandonadas e morrendo de fome. Combater esse flagelo pode significar uma parte do caminho andado para combater a sida, por exemplo. O Carlos C. escusa de mencionar o papel de organizações religiosas católicas (e de leigos) em África, que foram e são fundamentais para minorar alguns destes problemas. Graças à sua generosidade é possível hoje termos escolas em lugares recônditos de Moçambique ou de Angola, por exemplo. Ponto assente.
Quanto refere, no seu texto, que «quando se trata de bater na Igreja, qualquer razão serve», eu suponho, caro Carlos, que não estás a referir-te a mim, mas pronto; ou qualquer razão serve?