PAÍS SONSO. O Santa Ignorância escreve, no seu texto «When The Meninas Came To Town», que agora, passados uns tempos sobre a reportagem da Time sobre as meninas de Bragança, não se ouve ninguém protestar contra as notícias de rusgas, detenções, encerramentos de «casas de alterne». Meu caro: somos um país sério, em pantufas, metidos connosco, sentado diante da televisão. A Time não tinha nada que nos vir incomodar com aqueles retratos, aquelas declarações citadas entre aspas (como manda a decência jornalística), aquelas revelações. O que é preocupante, no entanto, não é a confirmação da existência de «meninas de Bragança» pelo país fora. Até dá um certo colorido. Mas a contínua referência da imprensa aos «empresários da noite», essa sim, mostra uns retratos de escravocratas, «homens de negócios flutuantes», traficantes. Todos eles citados, escondidos. Ficariam bem num romance de Jorge Amado, se o retrato tivesse uma luz de decência ou de malandrice. Mas não: é abjecto, traz tiroteios nas discotecas, mulheres mantidas prisioneiras em primeiros andares de discotecas de Mirandela ou de outro lugar. Eu também ouvi gente de sacristia a protestar contra a Time (mesmo da imprensa, apesar de a reportagem nunca ter sido desmentida), país sonso, de plástico sujo, incomodado com o espelho.
Aviz
«We have no more beginnings.» [ George Steiner ]
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