CALAR, CALAR. O Jorge Marmelo chama a atenção para o inquérito do Público sobre a eventual «proibição» de os chamados dirigentes dos clubes de futebol falarem antes dos jogos. Se se tratasse apenas de futebol, o assunto estaria arrumado. Mas não. Portugal transformou-se, aos poucos, num território para fanáticos e moralistas. A tentação de «proibir» alguém de falar é comum ao desporto e à política. De vez em quando, aliás, aparece uma luminária defendendo que outra luminária não deve falar sobre as presidenciais, a reforma da lei eleitoral ou os títulos de primeira página dos jornais; esta legitimidade para mandar calar os outros tem vindo a desenvolver-se num país cada vez mais tagarela, o que é estranho. Curiosamente, essa tentação vem sempre acompanhada de um fervor legislativo que, na maior parte das vezes, deixa buracos suficientemente proveitosos para quem gosta de ludibriar a nova lei. [Também é outro aspecto importante da vida portuguesa, a vontade de legislar sobre tudo o que apareça à frente, com o argumento de que o bom-senso já desapareceu.]
Já em anos anteriores houve uma tentativa, por parte da Liga de futebol, de vigiar o discurso dos «dirigentes» e «agentes» da bola. Também aí se colocava um problema de legitimidade: quem iria vigiar a gramática, o léxico e as metáforas de um cavalheiro que os jornais se derretem por ouvir? Que penalização se lhe iria atribuir? Desta vez, depois das recentes pancadarias futebolísticas, a iniciativa reapareceu: agora, a solução era proibir os «dirigentes» de falar sobre as arbitragen s antes dos jogos. Sinceramente, não é agradável ler essas declarações e, ainda menos, ouvi-las dos próprios. Mas esta «lei da rolha» é tão ridícula, só no conceito que arrasta consigo, que tem todas as probabilidades de alguém insistir mesmo em levar a coisa por diante.
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