CORDEIRINHOS. Eu sei que Berlusconi é um personagem – como se diz? – «controverso». Não inspira confiança. Ele diz uma coisa e apetece pensar o contrário. Nunca lhe compraríamos um carro em primeira mão. Tudo isso. No entanto, hoje, ao fazer a «revista da imprensa» habitual, de manhã, reparo em vários comentários sobre uma declaração estapafúrdia de Berlusconi acerca da «evasão fiscal». Geralmente em nome de uma correcção política que deixa logo margem para dúvidas, muito moralista e sacerdotal. Sim, o país tem uma elevada taxa de «evasão fiscal» ou de manobras para fugir aos impostos praticadas por «sectores dinâmicos» da economia – desde construtores civis a bancos, passando por advogados, jogadores de futebol e cavalheiros da indústria. Mas também tem uma «sociedade civil» fraca que raramente questiona a natureza dos impostos que paga, ou a qualidade da sua aplicação. Não me refiro à cantilena sobre «o dinheiro dos contribuintes», mas não me assusta a perspectiva; acho que é discutível. E quando digo que é discutível, isso significa que se deve discutir. Sendo certo que todos somos obrigados a pagar impostos, e que isso constitui uma obrigação moral, também é verdade que devemos discutir a aplicação dessas constribuições. E pô-la em causa não é pecado nenhum, ao contrário dos cordeirinhos que, arrastados por Berlusconi, acham que toda e qualquer dúvida lançada sobre a «obrigação fiscal» é um crime em absoluto. Não é.
Aviz
«We have no more beginnings.» [ George Steiner ]
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