L'IMPORTANCE DES RÉFÉRENCES. O Le Monde publicou um texto sobre o caso Casa Pia e Portugal. Medeiros Ferreira (os seus textos do Diário de Notícias têm sido dos mais ponderados sobre o assunto) fala dessa descoberta assustadora: a de que, debaixo do verniz do País que viveu Expo98 «e a sua arquitectura futurista», estava um outro País, atrasado – «Et ça fait mal!» Daí também se explica a aliança entre o populismo e a televisão. «Graças ao pequeno ecrã», diz Medeiros Ferreira, «assistimos a uma verdadeira catarse no País.» Mas o Le Monde também ouviu Manuel Alegre, que se manifesta contra a ideia de «catarse». É mais um «linchamento mediático»: «Quand je pense que nous avions fait une révolution exemplaire, tout cela pour tomber à nouveau dans la culture du doute!»; «La justice, ce n’est pas faire le procès des institutions. Un pays a besoin de références.» Ora esse é que é um problema: as referências passavam pela tranquilidade do silêncio em relação à Casa Pia e à honorabilidade intocável e insuspeita de todo o sistema politico e dos média. Isso já não é possível. Ao contrário do que se diz no artigo, essa é, precisamente, vantagem de trinta anos de democracia, e não a destruição dessa democracia. Os mais cépticos podem perguntar-se se o País precisa mesmo destas referências, mas talvez seja excesso de cepticismo e de má-fé; acho é que as referências do País já são outras, para o pior e para o melhor, nem são as instituições que estão a ser atacadas. Concordo que «les références» são importantes, mas lembro-me sempre dos senadores italianos nestas circunstâncias.
Aviz
«We have no more beginnings.» [ George Steiner ]
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