LIVROS PERDIDOS, 5. Há um daqueles romances-comédia de David Lodge, O Mundo é Pequeno (Gradiva), em que, no auge do delírio, alguém se propõe escrever uma tese sobre «as influências de T.S. Eliot em Shakespeare». Não é assim tão absurdo, reconheço hoje ao ler As Armas e os Varões, de Tabajara Ruas (L&PM, edição brasileira, um épico sobre as guerras do Rio Grande do Sul), além de O Fascínio, A Região Submersa ou Netto Perde a Sua Alma (todos na Âmbar, em Portugal). De Tabajara sou levado a recordar Erico Verissimo, sobretudo Olhai os Lírios do Campo e O Tempo e o Vento. São dois livros fundadores do romance brasileiro fora do eixo Rio-São Paulo ou do universo nordestino na altura em que tudo vinha daí. Olhai os Lírios do Campo é uma das marcas do cânone brasileiro, hoje em dia, um texto moderno. Tabajara Ruas fala da ditadura brasileira em A Região Submersa, durante os anos de chumbo em que esteve exilado na Argentina ou de passagem pelo Uruguai (e, depois, por Lisboa, aliás), e do Rio Grande do Sul de hoje em O Fascínio, mas tudo me sugere Olhai os Lírios do Campo ou, pelo menos, aqueles cenários de Erico Verissimo, as paisagens do Brasil onde neva, as suas pequenas florestas, a linguagem do sul, do pampa, as cidades europeias do Atlântico Sul, essa pequena Antárctica brasileira. Ou seja, os livros de Verissimo explicam-se-me hoje melhor depois de ler Tabajara Ruas.
Aviz
«We have no more beginnings.» [ George Steiner ]
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