MINORITY REPORT. Acho que, ao transcrever um texto do Prosa Caótica, já dei a minha opinião sobre «a crise da blogosfera» enunciada por Pacheco Pereira. É um debate em que não quero entrar, até porque propriamente não existe debate: a «blogosfera» é um domínio onde se escreve até ao infinito, onde se discorre praticamente sem lei. Essa é uma das suas virtudes. Concordo com Pacheco Pereira quando ele escreve que «o meio é ácido, mais do que polémico, e atrai os ácidos» (e que há mais hostilidade – mas isso não é da «blogosfera», é «disto tudo»); já o tinha escrito aqui há meses, quando falei de «ressentimento». Houve quem escrevesse que o Aviz queria apagar as discussões ou amenizar os debates, ou praticar uma «censura em nome da moderação». Longe disso, aqui ninguém pode censurar ninguém: o que me importava era o tom. Por isso escrevi nessa altura um texto sobre a «patrulha ideológica», não para lhe negar a legitimidade, mas para acentuar um novo modo de funcionamento dos blogs depois da estabilização da «blogosfera». O primeiro sinal, antigo, decerto, era o da contagem de espingardas entre esquerda e direita, mas isso já se esperava e não era despropositado, atendendo, aliás, à experiência de dois blogues fundadores, o Coluna Infame e o Blog de Esquerda.
Até certo ponto compreende-se essa lógica, dado que grande parte dos blogs políticos (não os blogs sobre política) mais populares são «sítios de resposta», e alguns de vigilância e de militância. São, sem dúvida, os blogs que têm uma agenda política (ou que a transportam dos jornais) e que se actualizam ao minuto diante da actualização das notícias. Acho isso normal, embora não seja nesses que o debate político é mais interessante; limitam-se a seguir a agenda ou a ter opinião sobre o que tem mais «audiência». Pelo caminho, contam espingardas e deitam um olho ao índice Technorati. Acho bem, «é assim que as coisas se fazem»; mesmo que não interesse entrar no jogo, o jogo é assim e estamos lá todos. Por isso, não há crise na «blogosfera»: ela está, apenas, «a entrar nos eixos», a ficar mais «normalizada» (às vezes apenas mais previsível). Uns fecham as janelas, partem, vão escrever noutro lado, ninguém pode criticá-los. Outros, mantêm o seu tempo destinado a escrever quase diariamente. Outros chegam agora. Outros ocupam o espaço que está aí disponível. Outros festejam-se. Nada disto é tão espantoso assim. Já estava escrito.
Ser parte da maioria é que não me encanta muito. Por isso acho bem o lema de um dos mais recentes blogs a entrar na net, o Desorientados: «Nós somos só dois. Eles são muitos.» Minority report, exactamente.
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