março 23, 2004

AINDA SOBRE BELGAIS: Escreve o Tempestade Cerebral num texto intitulado «Fraude Cultural» (que não sei se refere a Maria João Pires ou a mim): «Segundo o Aviz, os ricos portugueses são mais avarentos que os americanos. Contudo, a principal causa dos reduzidos apoios privados não é avareza mas, sim, o peso do Estado na economia. Este, ao assumir o papel de decisor dos projectos culturais a financiar, eliminou – através dos impostos – a liberdade de escolha de cada indivíduo.» Independentemente de achar que o Estado tem demasiado peso na vida dos cidadãos, não me parece justificável tirar essas conclusões. A acção do governo federal dos EUA em matéria de atribuição de bolsas e de apoios às artes não é omissa, nunca foi omissa, e convém, a esse propósito, consultar os documentos do National Endowment for the Arts e do National Endowment for the Humanities para que desapareçam algumas dúvidas sobre o papel do Estado americano na promoção da Cultura. A liberdade de escolha de cada indivíduo nunca desaparece. O que desaparece, nos casos que citei, é ausência de uma ética do dinheiro e de uma responsabilidade moral da riqueza. O Estado tem algum tipo de funções, os privados outras.
Antes, o Tempestade Cerebral indigna-se quando eu escrevo que «cada caso é um caso»: «Mas, se "cada caso é um caso", quem deve avaliar sobre qual o projecto merecedor dos subsídios do Estado? O Aviz? Eu??? O Aviz parece querer deixar essa tarefa aos pseudo-intelectuais do Ministério da Cultura! E, no entanto, no final do mesmo post, lamenta a escassez de donativos privados.» Bom, suponho que o Estado tem o dever de avaliar que projectos merecem os seus apoios e investimentos. É para isso que também existe. Aqui, no caso de Belgais, não se trata de subsidiar um projecto de criação, de vanguarda, de teatro experimental ou de poesia feita por encomenda para comemorar o 5 de Outubro. Enquanto não se compreender isso, não há debate.
Já o meu caro Epicurtas põe o problema noutro lado: por que razão devem as crianças de Belgais ser privilegiadas em relação às de outras paragens? Reconheço que é um ponto e tanto. Também não sei porque é que as crianças de Lisboa são privilegiadas em relação às de Bragança ou às de Vila do Porto em outras circunstâncias.

Veja-se, também, o aditamento colocado pelo Ideias Soltas.