março 12, 2004

ESPANHA, 4.

«Nada é tão necessário ao homem como um pouco de mar
e uma orla de esperança para além da morte,
é tudo o que preciso e talvez um par de asas
abertas no capítulo primeiro da carne.

Não sei como dizê-lo, com que cara
trocar-me por um anjo dos anteriores à terra,
quebraram-se-me os braços de tanto lhes dar corda,
dizei-me o que farei agora, que horas são, se ainda há tempo,
é preciso que suba a mudar-me, que me arrependa sem perder uma lágrima,
uma apenas, uma lágrima orfã,
por favor, dizei-me qual a hora das lágrimas,
sobretudo a das lágrimas sem nada mais que pranto
e pranto ainda e para sempre.

Nada é tão necessário ao homem como um par de lágrimas
prontas a cair no desespero.»

Blas de Otero [Blas de Otero nasceu em Bilbau. Morreu em Madrid, em 1979. Tradução de José Bento]